A Verdartis, empresa especializada em biotecnologia, desenvolveu um processo de produção de enzimas (proteínas que desempenham a função de catalisadores) capazes de tornar o processo de refino de celulose mais sustentável, reduzindo o impacto ambiental da produção de papel.
Marcos Lourenzoni e Álvaro de Baptista Neto, pesquisadores e sócios da empresa, instalada no Centro de Negócios do Parque de Inovação e Tecnologia Supera, em Ribeirão Preto, explicam que, no processo de produção de papel, a pasta de celulose, obtida no processo físico-químico Kraft a partir de cavacos de madeira, passa por refinadores que provocam mudanças estruturais nas fibras, tornando-as mais flexíveis. Esse processo é mecânico e, por isso, consome uma considerável quantidade de energia elétrica. A ação das enzimas ajuda a degradar as fibras de celulose, acelera o processo e diminui, assim, a energia elétrica gasta na produção.
Segundo uma avaliação realizada no Laboratório de Celulose e Papel da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, a mistura das enzimas produzidas pela Verdartis leva à redução de cerca de 30% no consumo de energia gasto na etapa de refino.
A startup concluiu o projeto de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) em abril de 2017, chegando ao desenvolvimento do processo produtivo de variantes melhoradas de enzimas celulases e xilanases que, misturadas em diferentes proporções, podem atuar tanto no refino da fibra virgem de celulose quanto no refino de celulose proveniente do papel reciclado.
Segundo Lourenzoni, o plano é buscar o apoio da Fundação de Amparo À Pesquisa de São Paulo (FAPESP) também para o desenvolvimento do escalonamento da produção. O objetivo dos sócios é colocar no mercado uma alternativa nacional às enzimas produzidas no exterior. “Existe uma alta demanda por esse produto e não há produção nacional: as enzimas utilizadas atualmente são importadas”, diz Baptista.
Lourenzoni explica que o processo de refino depende do tipo de papel que se deseja obter e do tipo de madeira utilizada em sua produção. Nesse último aspecto, o uso de enzimas produzidas fora do país apresenta um problema: são desenvolvidas para um processo de fabricação que utiliza madeira de coníferas, enquanto no Brasil a árvore mais utilizada pela indústria de papel e celulose é o eucalipto – para o qual a enzima importada não se mostra tão eficiente. A Verdartis, segundo ele, aposta exatamente na customização para atrair os clientes.
Em 2010, os resultados com a produção de enzimas personalizadas para branqueamento de celulose renderam à Verdartis o primeiro lugar no Prêmio Abiquim de Tecnologia, conferido pela Associação Brasileira da Indústria Química na categoria “Empresa Nascente”. Mas esse reconhecimento não tornou a empresa imune às crises enfrentadas pelo setor. “Por volta de 2011, o custo da água ficou muito alto e as empresas de celulose começaram a usar menos água na lavagem, o que limitou a utilização da enzima para o branqueamento, pois o processo requer uma lavagem eficiente”, lembra Baptista.
A saída para a Verdartis foi “pivotar”, e redirecionar o modelo de negócio. Decidiu então iniciar novas pesquisas direcionadas à etapa do refino. Agora, com o produto destinado ao refino já desenvolvido e prestes a ingressar no mercado em escala industrial, a Verdartis tem planos de retomar a produção de enzimas voltadas ao processo de branqueamento de papel. “Vamos investir agora nas duas frentes”, diz Lourenzoni.
Com informações da Agência Fapesp